Diga Não ao Aborto
Denunciê clínicas clandestinas.
Disque Denuncia: (21) 2253-1177.
P r o v o c a d o
Aborto provocado é todo aquele que tem como causador um agente externo, que pode ser um profissional ou um curioso, por medicamentos abortivos ou chás.
O aborto provocado por profissionais são aqueles realizados por médicos formados, eles utilizam as seguinter técnicas:
Dilatação e corte:
Uma faca, em forma de foice, dilacera o corpinho do feto que é retirado em pedaços (figura).
Sucção no 1º trimestre:
O aborto por sucção, pode ser feito até a 12º semana após o último período menstrual (amenorréia).
Este aborto pode ser feito com anestesia local ou geral. Com a local a paciente toma uma injeção intramuscular de algum analgésico. Já na mesa de operação faz um exame para determinar o tamanho e a posição do útero, depois lava-se a vagina com uma solução anti-séptica e injeta o anestésico local, no colo do útero. Se for anestesia geral, toma-se uma hora antes da operação uma injeção intramuscular de Atropina. Inicia então uma infusão intravenosa. A anestesia geralmente começa com a injeção intravenosa de Thionembutal através da infusão intravenosa. O Thionembutal adormece o paciente e um anestésico, geral por inalação – como o Óxido de Nitroso – é administrado através de uma máscara. A partir daí o procedimento é o mesmo da anestesia geral e local.
O colo do útero é imobilizado por um tenóculo, e lentamente dilatado pela inserção de uma série de dilatadores cervicais. Depois de semanas de gestação. Liga-se esta ponta ao aparelho de sucção (figura1), no qual irá evacuar completamente os produtos da concepção. A sucção afrouxa delicadamente o tecido da parede uterina e aspira-o, provocando contrações do útero, o que diminui a perda de sangue. Com anestesia local, usa-se uma injeção de Ergotrate para contrair o útero, o que pode causar náuseas e vômitos.
Curetagem:
Deve ser feito até 12º semana gestação.
Abre-se o colo do útero com instrumentos de tamanho crescente até ser possível a passagem da cureta (instrumento com forma de colher, figura2). A partir daí raspa-se o feto, placenta e as membranas.
Esse tipo de aborto é muito perigoso, porque pode ocorrer perfuração da parede uterina, tendo sangramento abundante. Outro fato importante é que pode-se tirar muito tecido do útero, causando a esterilidade.
Minniaborto:
É feito quando a mulher está a menos de 7 semanas sem menstruar.
O médico faz um exame manual interno para determinar o tamanho e a posição do útero. Lava-se a vagina com uma solução anti-séptica e com uma agulha fina, anestesia o útero em três pontos, prende-se o órgão com m tipo de fórceps chamado tenáculo, uma sonda de plástico fino e flexível é introduzida no útero. A esta sonda liga-se um aparelho de sucção e remove-se o endométrio e os produtos da concepção.
A mulher que faz o miniaborto, depois da operação pode ter fortes cólicas uterinas, náuseas, suor e reações de fraqueza. A mesma não pode ter relações sexuais e nem usar tampão nas três ou quatro semanas seguintes para evitar complicações ou infecções.
Aborto na Zona cinzenta:
Zona cinzenta é o período de tempo que vai da 12º à 16º semana após a última menstruação.
Fazer um aborto nesse período, é muito perigosos pois o feto já está muito grande e existe pouco líquido aminiótico.
Pesquisas recentes descobriram que a utilização de supositórios vaginais de Prostaglandina EZ causam contrações uterinas e aborto. Este supositório é mantido na vagina por um diafragma alterado, cuja porção central foi removida. Sem o diafragma a prostaglandina tem que ser colocada constantemente (2-2 horas) com o diafragma também, mas com menos intensidade.
Em outra pesquisa desenvolveram outra forma de prostaglandina sintética, chamada de 15(s) – 15 – mentil prostaglandina F2 alfa, no qual é injetada intramuscularmente a cada duas ou três horas, e provoca o aborto em cerca de 14 horas.
Aminiocentese ou envenenamento por sal:
É feito do 16º à 24º semana de gestação.
O médico aplica anestesia local num ponto situado entre o umbigo e a vulva, no qual irá ultrapassar a parede do abdome, do útero e do âmino (bolsa das águas). Com esta seringa aspira-se o fluido amniótico, no qual será substituido por uma solução salina ou uma solução de protaglandina.
Após um prazo de 24 à 48 horas, por efeito das contrações do feto e expulsa pela vagina como num parto normal. O risco apresentado por esse tipo de aborto é a aplicação errada da anestesia, e a solução ter sido injetada fora do âmino, causando a morte instântanea.
Microcesárea ou Histerotomia:
É feito entre a 16° e 24° semana de gestação.
Há duas técnicas para fazer a microcesária. A 1°, feita com o corte no fundo da vagina, perto do colo uterino, para ter acesso a parte inferior do útero, fazer nele uma incisão e retirar o feto por abertura. A outra faz uma incisão no abdome, à altura da linha dos pélos púbicos abre um corte na parte da frente do útero e esvaziá-lo por ali. É necessário fazer a anestesia geral, aumentando os risco deste tipo de aborto.
Drogas e Plantas:
Existem muitas substâncias que quando tomado causando o aborto. Algumas são tóxicos inorgânicos, como arsênio, antimônio, chumbo, cobre, ferro , fósforo e vários ácidos e sais.
As plantas são: absinto (losna, abutua, alecrim, algodoeiro, arruba, cipómil-homens, espirradeira e várias ervas amargas ).
Todas estas substâncias tem ser tomadas em grande quantidades para que ocorra o aborto. O risco de abortar é tão grande como o de morrer , ou quase.
E s p o n t â n e o
Este aborto acorre involuntariamente, por acidente, por anormalidades orgânicas da mulher ou por defeito do próprio ovo.
O aborto espontâneo ocorre normalmente nos primeiros dias ou semanas da gravidez, com um sangramento quase diferente do fluxo menstrual , podendo confundir muitas vezes a mulher do que realmente esta ocorrendo.
Há dois tipos de aborto espontâneo: O aborto iminente e o inevitável.
O aborto iminente é uma ameaça de aborto. A mulher tem um leve sangramento seguido de dores nas costas e outras parecidas com as cólicas menstruais.
O aborto inevitável é quando tem-se a dilatação do colo do útero para expulsão do conteúdo, seguido de fones dores e hemorragia. O aborto inevitável é dividido em três tipos: O incompleto, que é quando ocorre expulsão de coágulos ou pane da placenta, o aborto completo, que é quando ocorre depois da saída dos coágulos a saída do restante do conteúdo, e o aborto frusto, que é quando o ovo morre mais não e expelido.
A b o r t o na A d o l e s c ê n c i a
Cristina ainda estava no colégio quando conheceu Gustavo. Os dois começaram a namorar e, na primeira vez que transaram, ela engravidou. Quando soube da gravidez, Gustavo duvidou de que fosse o pai e sugeriu o aborto. Decepcionada e assustada, Cristina concordou em abortar e procurou uma amiga, Flávia, que a tranqüilizou e indicou um remédio de efeito abortivo. Cristina tomou o comprimido e dormiu na casa da amiga para os pais não desconfiarem de nada. No dia seguinte, foi à escola, mas não se sentiu bem. Começou a ter hemorragia, e a amiga a levou para um hospital, onde o aborto foi concluído.
A história de Cristina e Gustavo está no vídeo Uma Vezinha Só, produzido pela Três Laranjas, inspirado no depoimento de centenas de meninas ouvidas pela Ecos, uma organização não-govemamental paulista de pesquisa e projetos na área de sexualidade do adolescente.
Preocupada com o crescimento do aborto entre os jovens, a Ecos fez o vídeo para motivar a discussão entre eles dentro e fora das escolas.
Acobertado pelo silêncio em tomo do assunto, o aborto na adolescência tem crescido, nos últimos anos na mesma proporção que a gravidez. De 1 milhão de adolescentes de l0 a 19 anos que ficam grávidas a cada ano, mais de 200.000 abonam. A maioria é da classe média.
Nas classe menos favorecidas, 80% das meninas que engravidam levam a gravidez até o final.
Nas classes mais altas acontece o oposto: 80% abortam. Essa foi a conclusão da pesquisa da Dra. Zenilda Vieira Bruno, da Universidade Federal do Ceará, com 1.200 adolescentes atendidas na Maternidade Escola Assis Chateaubriand, em Fortaleza.
"A principal razão dessa diferença é que a adolescente de classe média tem mais facilidades e recursos para abortar do que um adolescente de menor poder aquisitivo", resume Dra. Albenina Takiuti, coordenadora do Programa de Saúde do Adolescente do Estado de São Paulo.
Enquanto uma gravidez pode ser acompanhada tranqüilamente num hospital público, o aborto é feito na clandestinidade. Quanto menor o poder aquisitivo, piores as condições em que é realizado. Em geral, o aborto em uma menor de idade custa de duas a três vezes mais do que o preço cobrado a pacientes adultas: e, na periferia das grandes cidades, as pessoas que o realizam (as chamadas curiosas) recusam-se a atender menores.
Ao contrário da mulher adulta, que percebe a gravidez nos primeiros dias de atraso menstrual, a adolescente demora para identificar seus sintomas. A tendência é negá-los e achar que, com ela, uma gravidez indesejada nunca vai acontecer.
"No primeiro mês, nem liguei", reconhece Marília, uma adolescente de 16 anos que, aos 15 anos fez um aborto. "Mas, quando não veio de novo, no segundo mês, falei com uma amiga da escola e compramos um daqueles testes de farmácia. "Depois disso, Marília foi ao médico, conversou com o namorado, pediu ajuda a irmã e, quando fez o aborto, já estava no terceiro mês de gravidez.
A resolução de abortar é lenta, difícil, e parece ser algo que escapa das mãos da adolescente. Em pelo menos metade dos casos, amigas, mãe, namorado, pai ou parentes são consultados antes da interrupção da gravidez, mas são principalmente as amiga (34%) que influenciam a decisão, segundo estudo da Dra. Zenilda Vieira Bruno.
Numa sociedade que supervaloriza o papel da mãe, o aborto não só é crime como um tabu, e a decisão de abortar, sobretudo para uma adolescente, é assustadora. Temendo o julgamento moral, ela não consulta o médico, que, em geral, é o mesmo da sua mãe, e prefere conversar com as amigas e buscar auxilio em uma farmácia do correr o risco de enfrentar um olhar acusador.
Muitas adolescentes se amedrontam e até desistem do aborto quando entram pela primeira vez numa clínica clandestina. "Até chegar lá, elas não tem nem idéia de que vão ser submetidas a uma cirurgia", observa Dra. Albenina Takiuti. "Quando vi aquele apartamentinho feio, com um sofá velho e uma sala escura, cheia de livros, quase saí correndo", lembra Paula, uma estudante carioca de 17 anos que se submeteu a um aborto num apartamento no Leblon, zona sul do Rio.
"Só não fugi porque minha melhor amiga e meu namorado estavam comigo." Em países desenvolvidos, como França e Inglaterra, há centros de aconselhamento psicológico e atendimento de aborto. No Brasil, uma jovem nem pensa em chegar a um centro de saúde e expor suas dúvidas.
"A adolescente acaba se sentido isolada. Não sabe a quem pedir ajuda e o que decidir diante de pressões sociais que consideram aborto crime e , ao mesmo tempo, criticam a mãe-solteira", analisa a socióloga Sylvia Cavasin, da Ecos. Confusa e apavorada ela recorre ao auto-aborto, utilizando desde chás milagrosos até injeções anticoncepcionais ou superdoses de remédios.
" Se não adianta, ela começa a procurar procedimentos de maior risco para resolver a questão", diz o Dr. Osmar Colás, da Escola Paulista de Medicina. Em geral, ela só procura o hospital quando já fez o aborto. Muitas vezes é tarde demais. Em 1994, um terço das mortes por complicações de aborto na cidade de São Paulo foi de garotas de 15 a 19 anos.
Como Cristina boa parte das adolescentes abona com um remédio, o Cytotec, desenvolvido a dez anos pelo laboratório Searle para prevenção e tratamento de úlceras gástricas ou duodenais.
No Brasil, o medicamento é o único que contém misoprostol, um produto sintético análogo à prostaglandina, substância produzida pelos tecidos do organismo. No estômago, sua função é estimular a produção de muco, que protege a mucosa contra agressões. Na musculatura uterina, faz os músculos se contraírem, provocando como efeito colateral, em grávidas, sangramento e a
expulsão parcial ou completa do embrião.
O Cytotec é tomado á noite ou no final de semana, sem que os pais saibam e, em geral, a indicação é feita por uma amiga ou mesmo pelo balconista da farmácia. Normalmente, as tentativas acontecem no primeiro trimestre de gravidez. Mas, como a droga atua ao longo de nove meses de gestação, podem ocorrer depois do terceiro mês situações dramáticas, como a rupturas das fibras uterinas por causa das contrações, seguida de hemorragia muito fone e até morte.
O remédio é ingerido, colocado na vagina ou, freqüentemente, usado de ambas as formas. Quanto à dosagem, as adolescentes, segundo o Dr. Osmar Colás, chegam a tomar 800 miligramas. "Na ânsia de abortar, elas acabam se intoxicando", diz o médico. Elas tomam o remédio e, geralmente, algumas horas depois, começam a sangrar. O perigo é que, diferentemente da mulher adulta, a adolescente é pouco atenta aos seus efeitos. Tem hemorragia, febre, dores e deixa o tempo passar para procurar ajuda porque nem desconfia dos riscos que corre.
Em pelo menos 70% dos casos, o aborto com medicamento não é completo, o que agrava a hemorragia. Nesse caso, é preciso se submeter a curetagem depois, para que não haja fisco de infecção.
A adolescente demora a perceber que algo está errado e leva mais tempo ainda para tomar uma atitude. Quando procura o médico, não é raro estar a dias com uma infecção que pode levar à esterilidade e até a morte.
Para fazer aborto, cada vez menos jovens recorrem a clínicas. Muitas adolescentes, de acordo com a pesquisadora Dra. Sylvia Cavasin, só conhecem os comprimidos como forma de interrupção da gravidez, pois convivem desde o inicio da sua adolescência com histórias de amigas e conhecidas que abortaram utilizando o medicamento.
Apesar dos riscos, o aborto com o Cytotec é ainda menos perigoso do que por curetagem (raspagem do interior do útero) ou sucção em clínicas clandestinas. "O remédio tem diminuído o número de mortes e de infecções geradas por abortos clandestinos", afirma Jorge Andalafi, presidente da Comissão de Aborto Legal da Federação Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia. As seqüelas já são menos freqüentes do que no passado, quando curetagens com material não esterilizado levavam a graves infecções e a inabilidade de médicos e curiosas provocava a
perfuração do útero.
Do ponto de vista psicológico, as conseqüências do aborto também são mais graves em adolescentes do que numa mulher adulta. "Por volta dos 15 anos, elas estão iniciando a vida sexual. Muitas acham que abonam para pagar o crime que cometeram: o de terem transado", explica a psicóloga Silvani Arruda, da Ecos.
A culpa, que é comum também em mulheres adultas, nesse caso soma-se ao sentimento de que não podem exigir nada porque, afinal, erraram. O medo é o sentimento mais fone que elas experimentam.
"A menina leva um susto", diz a psicanalista Maria Cecília Pereira da Silva, do GTPOS, Grupo de Trabalho e Pesquisa em Orientação Sexual, de São Paulo. "Não tem consciência de que já é mulher e de que pode ser mãe. "Passado o primeiro impacto, ela divide a notícia com o parceiro, que, em geral, questiona se o filho é mesmo dele, pergunta-se sobre sua vida e sobre como vai cuidar do bebê. O sonho de ser mãe briga com os outros sonhos e dá espaço à ilustração.
A adolescente de 13, 14 anos não tem a estrutura psicológica da mulher madura para agüentar o sofrimento. "Ela nega a dor e tende a repetir a experiência", explica a psicanalista. "Sofre um retraimento da vida sexual ou transa e não se previne de uma gravidez indesejada." Depois de um aborto, é comum que os pais cobrem, vigiem ou punam a adolescente. O medo de que a situação se repita e a dificuldade de lidar com a situação podem ter conseqüências ainda mais graves. Fragilizada e com a auto-imagem abalada, a garota se sente desvalorizada. Fica completamente perdida e ainda mais vulnerável. É bastante freqüente que volte a engravidar no mesmo ano ou um ano depois e pelo menos 40% das adolescentes que tomam a ficar grávidas
depois de três anos da primeira gestação, alerta a Dra. Albenina Takiuti.
Quanto mais velha, a menina opta pelo aborto com mais consciência. Um estudo realizado pela Ecos com jovens de 17 a 25 anos observou que para decidir pela interrupção da gravidez a maioria delas havia ponderado as limitações que uma criança traria naquele momento ás suas vidas. Coisa que uma adolescente de 15 anos raramente tem condições - ou maturidade - de fazer sozinha.
Mesmo quando estão cientes da impossibilidade de ter um filho, o aborto não deixa de ser uma experiência dolorosa para essas garotas. Apesar de aliviadas, mais de 60% delas sentem-se culpadas e nervosas, segundo estudo da Universidade Federal do Ceará.
Além disso, após o aborto, é comum a garota terminar com o namorado e vivenciar sozinha essa experiência, suas seqüelas e o sentimento de culpa não resolvido.
Para os pais, essa experiência também costuma ser difícil, como lembra Elvira, uma socióloga gaúcha, mãe de Clarissa, uma jovem de 22 anos que, aos 17, engravidou e fez um aborto. "Entrei num processo de culpa do tipo 'onde foi que eu errei', mas procurei compreender o que estava acontecendo e ficar do lado dela."
O ideal, para Silvani Arruda, é que, por mais duro que seja, os pais nessa hora discutam com a filha as opções e, no caso de ela escolher o aborto, reforcem a idéia de que a vida continua depois dele e mostrem que ela não vale mais nem menos por causa do aborto.
Muitos pais, quando sabem que a filha está grávida, resolvem pelo aborto sem sequer ouvi-la. "A adolescente, em geral, participa muito pouco da decisão", afirma a Dra. Albenina Takiuti. O mais comum, principalmente entre as mais novas, é que alguém decida por ela. Freqüentemente, a menina aceita ser levada e, depois, culpa a mãe pelo aborto. Sem ter tido a oportunidade de refletir antes, algumas apresentam, anos mais tarde, o que os especialistas chamam de síndrome do arrependimento tardio. Choram, dizendo que o filho deveria ter hoje
tantos anos ou temem uma espécie de castigo no futuro.
A jovem geralmente tem informação sobre métodos anticoncepcionais, mas não sabe como utiliza-los. Não se previne adequadamente de uma gravidez indesejada e, o que é mais grave, nem da SIDA(Aids). O desejo fala mais alto. O garoto, por sua vez, não entende nada de contracepção e acha que isso não é problema dele. "Mais da metade dos adolescentes que nós entrevistamos não
sabiam que todo dia o homem é fértil", diz Silvani Arruda.
Hoje, fala-se muito de sexo e de prazer e pouco das conseqüências. " Se ele não reflete antes, não consegue conectar a informação com a realidade", explica a psicanalista Maria Cecília Pereira da Silva. Por mais que aparente que o adolescente já sabe de tudo, é importante que os pais não tenham medo de parecer chatos e discutam essas questões contrapondo suas opiniões com as dele.
O adolescente tem necessidade de argumentação", explica a psicanalista. "Faz parte do crescimento contrapor idéias. Isso não significa que esteja contra os pais."
A aprendizagem do adolescente depende antes de tudo da repetição. Ou seja, é importante falar, falar... nem que eles digam que estão cansados de ouvir. Falar, nesse caso, não significa dizer: "Tomar cuidado! Você pode ficar grávida e isso vai acabar com a sua vida". É necessário aprender a escutar, saber o quanto eles estão de fato informados sobre sexo, lembrando que contracepção é um assunto que diz respeito a homens e mulheres e não apenas às mulheres.
Como elas fazem aborto
Cytotec |
57% |
Medicamentos por via oral não identificado pelo nome |
12,5% |
Chás de ervas |
10,6% |
Injeções intramusculares |
8,7% |
Injeções de sonda |
4,5% |
Clínicas de aborto |
2,6% |
Exercícios de pressão violenta no abdome |
1,9% |
Tabletes de permanganato de potássio intravaginais |
0,7% |
Introdução de objetos estranhos |
0,4% |
Outros métodos |
1,1% |
Fonte: Revista Claudia
Material Coletado da Revista claudia Nº 427,Abril de 1997
Estatística do Aborto do IBGE
Tabela 1: Número de óbitos causado pelo abortamento segundo regiões no ano de 1979-1994, brasil.
Ano do óbito |
Norte |
Nordeste |
Sudeste |
Sul |
C.O |
Total |
1979 |
41 |
83 |
176 |
70 |
31 |
401 |
1980 |
27 |
92 |
143 |
56 |
26 |
344 |
1981 |
36 |
66 |
129 |
55 |
29 |
315 |
1982 |
27 |
63 |
145 |
53 |
22 |
310 |
1983 |
33 |
62 |
115 |
46 |
29 |
285 |
1984 |
30 |
66 |
99 |
43 |
29 |
267 |
1985 |
30 |
60 |
113 |
31 |
9 |
243 |
1986 |
25 |
64 |
103 |
28 |
21 |
241 |
1987 |
28 |
54 |
83 |
40 |
24 |
229 |
1988 |
19 |
51 |
91 |
23 |
20 |
204 |
1989 |
30 |
59 |
69 |
21 |
16 |
195 |
1990 |
13 |
49 |
83 |
32 |
17 |
194 |
1991 |
11 |
47 |
75 |
28 |
9 |
170 |
1992 |
15 |
56 |
67 |
28 |
18 |
184 |
1993 |
14 |
45 |
71 |
26 |
13 |
169 |
1994 |
12 |
66 |
81 |
30 |
17 |
206 |
Total |
391 |
983 |
1643 |
610 |
330 |
3957 |
Tabela 2: Número de aborto segundo o tipo, realizados pelo SUS, no Brasil, no ano de 1996
Tipo |
Nº |
Aborto retido |
632 |
Aborto espontâneo |
634 |
Aborto induzido c. Indic Admint Legalmente |
635 |
Aborto induzido s. Indic Admint Legalmente |
636 |
Aborto não especificado |
637 |
Fonte de pesquisa: Ministério da Saúde
As "feministas" e a sua tática sobre o aborto
Vejamos três textos:
1. "(... ) Não matarás criança por aborto nem criança já nascida "
2. "No Rio de Janeiro, o Centro da Mulher Brasileira evitava posicionar-se oficialmente em relação ao aborto (para não Ter problemas com a Igreja Católica, grande aliada na luta contra a repressão) e em relação ao planejamento familiar (para não entrar em divergências com a esquerda), apesar de suas associadas terem posições abertas a respeito de ambas as questões. "
3. "O estatuto do Centro da Mulher Brasileira do Rio de Janeiro, (...) não imprimia, igualmente, as palavras feminismo ou feminista em seu texto e, muito menos, fazia qualquer referência ao aborto. "
l - Introdução:
O primeiro trecho acima foi tirado da Didaqué, que foi o primeiro Catecismo cristão, datado de 90-100, o qual deixa explícito o pensamento da Igreja já no seu primeiro século de vida. O aborto é tomado como ato pecaminoso e o trecho citado não admite outro tipo de interpretação.
Os dois outros trechos foram tirados do artigo "Legalização e descriminalização do aborto no Brasil – l0 anos de luta feminista ", de Leila de Andrade Linhares Barsted, publicado na revista Estudos Feministas vol. 0 n° 0 do 2° semestre de 1992. Este artigo é interessante para o entendimento de como evoluiu a dita "luta" feminista: apresenta dados históricos e esboça os principais argumentos em que se baseiam as "feministas" para reivindicar a legalização e descriminalização do aborto.
Embora seja o artigo citado uma ótima fonte de discussão na questão do aborto, trataremos aqui apenas de entender os meios (táticas) utilizadas por estas
"feministas" para impor as suas idéias.
ll - Camuflando a verdade.
No próprio título do referido artigo nota-se uma preocupação que se estende em todo o pensamento "feminista" em relação ao aborto: o enobrecimento da causa.
Qualquer que seja o artigo de "feministas" favoráveis ao aborto, somos bombardeados com argumentos econômicos, sociais, médicos, jurídicos, etc., com o intuito de dar importância às suas reivindicações.
Isto, na verdade, trata-se de uma tática, muito bem estudada e executada que tem por finalidade amenizar a repugnação que a maior parte das pessoas sentem em relação ao aborto. No início do artigo assim escreve a autora:
"A questão do aborto no Brasil surge no bojo de um Movimento social cuja história se inicia no interior de unta sociedade marcada por unta ditadura militar extremamente repressora. "
É uma bela tentativa de ligar o direito ao aborto à questão da liberdade democrática. É óbvio que todos queremos democracia e liberdade individual... Mas a que preço? Será que a liberdade individual das mulheres passa, necessariamente, pelo direito de terminar com uma vida em desenvolvimento? Nota-se então, claramente, a utilização de um argumento apelativo para obter adesões a uma idéia que é rejeitada pelo próprio horror que causa a qualquer pessoa - o aborto.
De tentativas assim, dizia Montaigne nos seus Ensaios:
"É reconfortante, mesmo para os que só alimentam maus sentimentos, poder ligar à ação abominável, cujo fruto colheram, um traço de bondade e justiça a fim de aliviar a consciência do peso de sua cumplicidade. "(Livro lll, cap. l)
Ou seja, se é necessário que uma ação seja justificada, por ser má em seu princípio, nada mais conveniente que juntá-la a algumas boas intenções para que a mesma possa ser tomada como bem razoável. Tal é a tática utilizada pelas "feministas" quando procuram apresentar a idéia do aborto como sendo de fundamental importância para a liberdade integral das mulheres. O raciocínio é simples: se o aborto é rejeitado pela maioria, liga-se a ela a questão da liberdade com o propósito de criar um conflito. Criado o conflito, muitos seriam levados a aceitar o aborto por amor à liberdade que estaria sendo ultrajada caso a mulher não tivesse esse direito. Mas nunca é apresentado o outro lado da questão: que liberdade alguma pode ser alcançada com o sacrifício de vidas inocentes.
E não só a liberdade individual... Também a saúde das mulheres, principalmente as de baixa renda, é tomada como um eficiente argumento em favor da legalização do aborto. Se o apelo à liberdade feminina não for aceito, o quadro de mulheres pobres que são levadas a fazerem abortos em clínicas ilegais ou, pior, com pessoas desqualificadas, e que são responsáveis por grande número de complicações e mortes, toma-se extremamente impressionante à opinião pública.
Vários outros argumento são utilizados eficientemente no discurso "feminista". Acima foram colocados apenas dois - liberdade individual e saúde materna – dos que são os mais chamativos. Alguns outros são utilizados, mas o importante é deixar anotado aqui que em momento algum é sequer mencionado a questão da humanidade do embrião. Este é, em nossa opinião, o principal ponto de discussão.
Em todos os textos "feministas" nota-se claramente a omissão em destacar que existe uma vida em jogo na questão do aborto. O embrião é levado através de um processo de "coisificação" para que apenas uma vida seja levada em consideração: a vida da mulher. Tal linha de pensamento é extremamente coerente com o objetivo de legalizar o aborto, pois, admitindo qualquer traço de humanidade no embrião, a posição "feminista" ficaria insustentável. É então colocada em relevo a figura da mulher-vítima: vítima da sociedade, vítima da economia, vítima da maternidade. Não queremos dizer que a mulher não é, na maior parte das vezes, vítima nas situações apontadas pelas "feministas"... Sim, a mulher é vítima da sociedade injusta em que vivemos e devemos nos esforçar para mudar esta situação. A pergunta é: como? Certamente não podemos tentar amenizar os problemas de um indivíduo – a mulher - criando uma nova vítima - o não nascido.
Não deixaremos aqui explicitado o nosso ponto de vista em relação aos argumentos acima referidos; isto ficará para um outro texto. A nossa intenção é apenas mostrar a habilidade das "feministas" em desviar a atenção da opinião pública dos pontos principais do debate em relação ao aborto.
lll - A dinâmica da mentira.
Que crédito pode Ter uma linha de pensamento que se abstém de revelar suas reais intenções, de forma calculada, para poder se impor? Será justo? Será moral? Nos trechos de números 2 e 3, transcritos antes da introdução, nota-se como uma entidade "feminista" começou sua luta pela legalização do aborto: escondendo a verdade! Por necessitar de aliança com a Igreja Católica, as integrantes desta entidade acharam por bem omitir suas opiniões a respeito do aborto. São atitudes como esta que mancham as melhores intenções...
Um trecho interessante é este:
"Qualquer movimento de mulheres que não recheasse sua plataforma de reivindicações gerais- ligadas ao trabalho, à miséria, às questões sócio-econômicas e políticas do país seria considerado inoportuno, incoveniente e divisionista. " (Mariska Ribeiro, citada por Leila Linhares )
O que isto quer dizer? Que elas assumiam a luta contra a miséria apenas como forma de galgar posições para atingir seus objetivos que, como vimos, eram omitidos? Seria a luta por melhores condições de trabalho apenas uma fachada e um embuste para legitimar um movimento que tinha medo em revelar suas posições?
Em que devemos confiar, se este movimento não tem a hombridade de assumir as suas posições? São mentiras dentro de mentiras...
Montaigne, no seu ensaio "Dos mentirosos", dizia:
"Na verdade, mentir é um vício odioso. Somente pela palavra é que somos homens e nos entendemos." (Livro I, cap. IX)
O panorama que se vai abrindo a nossos olhos deixa-nos ver como tais entidades atuam em busca de seus objetivos: omitem informações, fazem alianças segundo conveniências imediatas, tomam para si causas boas desde que lhes sejam úteis, etc.
Como confiar em tais pessoas?
Atualmente existem 17 projetos transitando no Congresso em relação ao assunto nas mãos de 12 juristas que integram uma comissão de reformulação do Código Penal ainda não conseguiram chagar a um bom senso em relação à sociedade. A maioria quer leis mais flexíveis e 4 deles quer uma proposta interna de reforma que legaliza a aborto até o 3º mês de gestação e, em casos de mal formação, até o sexto mês.
São projetos em defesa da vida concreta e do bem-estar das mulheres que não conseguem evitar uma gravidez indesejada através através de outros meios, procuram também diminuírem desespero das mulheres pobres e sua família e eliminar as clínicas clandestinas.
A b o r t o e P o l í t i c a
Por que a questão do aborto provocado é uma questão de Estado?
Porque, embora a rigor não seja um método anticoncepcional (e sim a correção de erro ou imprudência nas precauções anticoncepcionais), o aborto é um recurso eficaz de controle da natalidade. E o crescimento ou a redução das populações sempre foram de interesse do Estado.
Como era visto antigamente o ‘’direito de nascer’’?
Na antigüidade não havia, como hoje, discussão em torno de o feto ser ou não vivo, ser ou não uma pessoa. Aristóteles concluíra, ninguém sabe como e nem por quê, que o feto masculino começa a viver quarenta dias após a concepção e o feminino noventa dias depois. Na lei romana, o prazo para ‘’começar a viver era igual para fetos dos dois sexos. Ainda assim, o direito de aborto era reconhecido, porque convinha ao sistema social que a família estivesse subordinada ao poder patriarcal.
Como se manifesta o interesse político nas leis de hoje sobre o aborto?
Um exemplo claro é o dos Estados Unidos. A Constituição americana está em vigor há mais de duzentos anos. Os homens que a escreveram eram principalmente advogados e proprietários de terras, herdeiros de tradição religiosa estrita.
Durante quase duzentos anos as leis que cobriam o aborto foram tidas como perfeitamente compatíveis com a Constituição e fiéis ao espírito dela. Mas, desde o fim da Segunda Guerra Mundial, vem havendo preocupação oficial do Governo e da elite pensante estadunidense com o crescimento da população, no país e no mundo.
Em 1973, a Suprema Corte (tribunal incumbido de julgar a adequação das leis aos preceitos da Constituição) determinou que era inconstitucional proibir o aborto. Ou seja, depois de duzentos anos de vigência, a mesma Constituição passou a ter interpretação contrária à que vinha tendo. E quase todos os preceitos legais que puniam a provocação do aborto como crime ficaram revogados na prática.